quinta-feira, 26 de julho de 2018

Tolerância Zero é sofismo para Intolerância.


Não tolerar é não suportar, não relativizar, não mediar, não permitir que exista...
Quando ouço alguém dizer que adotará uma política de Tolerância Zero, me acende uma luz de perigo no horizonte.
Isto porque ao final de qualquer análise, a intolerância sempre vai flertar com a morte.
A intolerância é uma saída fácil. É o discurso de quem cansou, de quem jogou a toalha, mas é orgulhoso demais para admitir que não tem mais forças.
Daí, diferente dos ensinamentos cristãos  (e de tantas outras filosofias religiosas que vieram antes e depois de Cristo) ao invés de se render ao universo, no exercício de humildade para depois renascer mais sábio e forte na batalha, o ser humano lança mão do discurso da tolerância zero.
É o famoso "se não for comigo não será com ninguém", "se não dá pra resolver na boa vai na bala", "o jeito é arrebentar com tudo".
A Tolerância Zero é sofismo para Intolerância, para não aguento mais e não quero pensar no assunto, só quero resolver.
Recentemente um episódio ilustrou bem o que digo. Percebi quantas pessoas assistiram ao filme da Marvel (Guerra Infinita) e tiveram uma identificação com o vilão THANOS.
Vou dar spoilers ok. Na mente psicopata de THANOS os seres do universo estavam fadados a errar e consumir o universo com o caos e as guerras. Isto se dava pela escassez de recurso, pelo desequilíbrio.
Assim, vamos pular a parte do aprendizado, da mediação, da superação, da troca com o outro, da remissão, do perdão, da queda e da ressurreição…
Todo o trabalho e todas as vidas que se perderiam no processo era para THANOS insuportável, INTOLERÁVEL.
A solução era exterminar metade do Universo com um estalar de dedos. (sim, simples assim).
Extermino o que não tolero e tudo ficará bem. (bem para quem não foi exterminado).
Não é a toa que muitos saíramdo cinema dizendo que THANOS era o melhor vilão de todos os tempos, ou melhor, era na verdade um herói.
O avanço desse discurso de Tolerância Zero, é na verdade o último grito dos que cansaram. “Ou arruma de uma vez, ou pode me levar daqui, não me importa as consequências, doa a quem doer”.
Pena de morte para bandidos, mesmo sem o devido processo legal e independente do grau se sua culpa.
Miséria para os incapacitados, independente da falta de recursos e oportunidades que teve.
Exclusão para os esquisitos, os desajustados, independente de suas razões.
O que se quer é estalar os dedos e se ver livre de pensar nestes assuntos.
A intolerância é narcisista e só consegue conviver com quem é igual a ela, por isso todos os outros estão em perigo.
Triste, imagino Deus, seja ele quem for, sei que é maior do que nós humanos.
Mesmo assim, mesmo sendo Deus, nos amou sendo humanos e imperfeitos.
Deus, simplesmente nos tolerou.

Dr Helton Fesan advogado e escritor.

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