sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A ALMA DO NEGÓCIO.


Desde pequeno Joãozinho foi incentivado pelos pais a ter um ofício.
Ferramentas de plástico, calculadoras luminosas, caixinhas registradoras e ate kit salão de beleza, faziam parte da enorme caixa de brinquedos.
Seus pais, antenados, respondiam a qualquer estímulo do mercado e se apressavam em inventar atividades que levassem o menino a um posto profissional seguro.
Era compreensível.Nos altos e baixos do cotidiano, os pais de Joãozinho sabiam que dentre as desgraças do destino, ficar desempregado era das mais temidas.
Pior até que a morte, com a qual são conformados os viventes, mas a fome...
Os pais de Joãozinho são da geração do choque da automação, que temem o domínio das máquinas e presenciaram filas de produção serem extintas.
Daí o conselho - Joãozinho, você precisa fazer algo que uma máquina não consiga.
Com esse conselho Joãozinho cresceu e resolveu ser artista, músico, pois a sensibilidade humana é algo que vem da alma e alma, uma maquina não teria jamais.
Já adulto assistiu incrédulo à Inteligência Artificial e chegou a pegar birra da história de pinóquio quando percebeu a metáfora da busca da máquina por uma alma.
Mais adequado lhe parecia a Noite dos Mortos Vivos, onde Zumbis seriam maquinas sem alma, devorando a Humanidade.
Um dia Joãozinho foi (malditamente) presenteado com um software que compunha canções.
Duvidou.
Com o sax em frente da tela, soprou as primeiras notas e viu surgir uma lista de opções com escalas musicais.
Bastava clicar e ouvia das caixas infernais surgirem melodias possíveis a partir de suas notas iniciais.
Seu Coração quase parou, quando ouviu a um Clik, surgir a melodia que antes imaginara.
Seus olhos encharcaram-se e iniciou um choro soluçante.
Era o começo do fim...
Chorou e chorou como nunca antes havia chorado um ser humano.
Um choro profundo, compungido, uma dor de luto.
Foram três dias até curar-se.
Apontando para a tela sentenciou:

“Nem choro, nem riso. Minha dor, minha alegria, sempre lhe será alheia”.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

LIDERANÇA


O que antecede um líder
As pessoas buscam diariamente, incessantemente, obsessivamente o destaque. Por isso é tão importante para elas ser um líder, pois, o líder se destaca, aparece, se diferencia… mas… Não estão estas pessoas buscando o certo pelos motivos errados? Querer a liderança como um elemento de status é uma atitude ética?
Na verdade a frase "eu quero ser um líder" me soa tão vazio quanto dizer eu quero ser nada. Se a busca é tão somente pela liderança, temo dizer que você está no caminho errado.
Você não precisa ser um líder (no sentido de comando) para ser um vencedor. Bons profissionais são vencedores estejam eles em cargos de chefia ou não. Saber ser comandado e executar um trabalho com precisão são qualidades preciosas e disputadas no mercado de trabalho.
Basta olhar os exemplos esportivos. No vôlei, no futebol, os atletas brilham ao ajudar suas equipes e são lembrados e festejados pelos torcedores, porém não são todos líderes, na verdade, destacam-se aqueles que sabem ser liderados.
É necessário se ter uma meta, um objetivo. É preciso querer realizar algo, atingir um fim maior e considerar que para atingir este fim será necessário o envolvimento de outras pessoas; e que estas pessoas precisarão de um líder; e que talvez este líder possa ser você.
Percebeu o raciocínio? Se ao pronunciar a frase "eu quero ser um líder" você pulou algum dos estágios anteriores, bem provável que sua motivação seja tão somente um ato de egoísmo. Sonhe alto, mas lembre-se que liderança e status são conseqüências. Trabalho e meta são os principais.
A fábrica de líderes enlatados
Essa busca em mostrar que se é um líder desenvolveu o que chamo de “fabrica de líderes enlatados”. Basta vasculhar a internet, ou prateleiras de livros de auto-ajuda ou cursinhos de administração que encontraremos algumas receitas prontas para se tornar um líder. Aperte tal botão e terá tal resultado. No seu caso específico, qual a serventia e característica de uma liderança necessária.
Digo que cada caso é único e não se pode ter receitas prontas para criar um líder. Se esta é sua necessidade (tornar-se um líder para realizar algo) vá além e trilhe o caminho que os grandes trilharam. Não se conforme com a leitura rasa. Aprofunde-se nos teóricos e aplique estas teorias na vida prática.
Não seja manipulado. Todos nós gostamos de metáforas, mas, entendida a mensagem é hora de se aprofundar. Fuja da fábrica de líderes enlatados encarando os desafios de forma técnica e aprofundada. Liberte-se!
Dê o grande salto (Yucumã) e transpasse o abismo entre ação e pensamento.
Seja líder de sua vida!
Já tomou as “rédeas” de seu destino? Você realmente domina sua vida? Trabalha com o que gosta ou com o que tolera?
Será que não está acovardada (o) vivendo uma vida que não é sua, em um emprego que não é seu, com verdades que você não acredita, usando a desculpa de que “precisa de dinheiro”?
Não estou sugerindo que você abandone o emprego de uma hora para outra, mas que tenha a consciência de sua própria vida. Se o seu atual emprego não lhe agrada, mas é indiscutivelmente sua única opção no momento, é hora de traçar um plano urgente para ter mais opções.
Agora, se já existem outras opções e a verdadeira razão de você continuar neste emprego é a covardia, por favor, tenha a decência de mudar de atitude ou pare imediatamente de ler este texto.
Tenha coragem e esteja disposto a pagar o preço, não há outro caminho para a liderança.
Quem conhece o caminho guia.
Você já tem certeza do caminho que deseja seguir. Está apto a guiar os demais nesta viagem?
Não há problema em ainda estar indeciso. Sempre haverá tempo de se apaixonar.
Apaixone-se por algo. Por uma causa, por um trabalho, por um “fazer”.
Melhor. Apaixone-se por vários fazeres!
Descubra qual deles você deseja e está preparado para executar e execute. Se ainda não está preparado para executar nenhum, prepare-se. O importante é ir para a prática e descobrir seu caminho. Só então poderá guiar outras pessoas por ele.
Então, pé na estrada!
Características do Líder Real
Em todo texto há sempre uma lista de qualidades/competências que se espera de um líder ou de alguém que deseja tornar-se um líder (vide o início do texto).
Também darei minha lista mas com um diferencial. Não acredito que estas qualidades sejam exclusivas da liderança. São qualidades que todos nós devemos cultivar, lideres e liderados, para a construção de uma sociedade melhor em todos os aspectos. Então vamos a elas:

A) VIRTUDE – Não cultive pequenos delitos, poucas falcatruas, uma ou outra mentira, alguma indiscrição… São pequenas raposas que destruirão sua plantação. Não terá alicerce no dia em que teu caráter for testado.

B) SEGURANÇA - Não murmure, não reclame - Murmurar, segundo o Dicionário Aurélio: ü Dizer mal; maldizer; conceber mau. A boca só fala o que farta no coração. A reclamação é sinal de insegurança, quem seguirá um líder que reclama o tempo todo? Que segurança pode passar o inseguro. O maldizer contamina, a ti próprio e a quem te cerca.

C) ATITUDE - “espírito prático”, como diria Gramsci; Abismo entre pensamento e ação inaugurado por Platão; é necessário fazer, por em prática.

D) CONHECIMENTO – Muito pode ser falado sobre liderança, mas, na prática, o conteúdo é o que geralmente decide. É necessário aprimoramento naquilo que se deseja trabalhar. Leitura, pesquisa e graduação no ramo em que se pretende atuar são essenciais para um líder e para qualquer profissional.

E) INCERTEZA SAUDÁVEL – Não adote posturas definitivas ou radicais em assuntos polêmicos e transitórios.Só entre em discussões nas quais você esta verdadeiramente disposto a mudar de opinião. Se não lhe convencerem, ótimo, aumentou sua convicção. Se lhe convencerem, melhor ainda, provavelmente terá aprendido algo novo.

F) DOMINE A LINGUAGEM - Falar e escrever bem são os veículos universais de idéias, sem eles não é possível ir a lugar nenhum e menos ainda guiar os outros. Invista no seu idioma e, após, aprenda e aprimore outros.

G) EMPREENDEDORISMO – Inicie novos projetos e negócios, o país agradece. Se não existe mercado, crie.

H) SOLIDARIEDADE – Seja humano, observe o mundo ao seu redor e preocupe-se com ele. Dê a sua contribuição para o desejado “Mundo Melhor.”

I) DIVERSIDADE – Conforme-se, aceite e aproveite o fato do mundo não ser igual a você. Existem mais coisas, mais formas, mais culturas, mais religiões e não religiões. Tudo isto é ótimo, prova que somos humanos.

J) REDE DE CONTATOS – Sua rede de contatos começa com seus professores. Que tipo de aluno você tem sido? Cerque-se de pessoas que somam, que acrescentam. Das outras, aproxime-se para oferecer ajuda.

K) VALORIZE A FAMÍLIA – O relacionamento que você tem com a sua família irá permear todos os outros relacionamentos.

L) FOCO – Considere aquilo que é fundamental e comece por aí, depois abra o leque devagar para não perder o principal.

M) SEJA HUMILDE E USE O SISTEMA – Busque as coisas que já existem e que pessoas se dedicaram para construir antes de você. Aproveite este trabalho e aperfeiçoe-o.

N) CONHEÇA A TECNOLOGIA – Não seja refém da sua época. Aprenda a manusear as tecnologias que estão ao seu alcance e colabore para a proliferação deste conhecimento.

O) NÃO SE DESLUMBRE – Tudo é efêmero.

P) RESPEITE-SE – Você é o mais importante, não se agrida, não se coloque em situações indesejáveis, não viole seus princípios e sua natureza.
Lembre-se que no final a escolha é sempre sua. Se você sente que nasceu para correr – CORRA! Para voar – VOE!
Mas por favor – NÃO DESISTA DOS SEUS SONHOS.

Helton Fesan

terça-feira, 3 de agosto de 2010

EXPOSIÇÃO - AFRICA EM NÓS


Quer visitar Santo André.
Ver um muito de Africa que há em nós. Está é uma ótima oportunidade. Venham e divulguem. Conhecer para incluir.

Data 10 a 31 de agosto.
Abertura 10/08 19:00h

CLIK NA IMAGEM E VEJA O TEXTO

Entrada Franca

Informações - 4433 0605 / 4433 0425/ 4992 7730.

domingo, 11 de julho de 2010

VINICIUS, TRABALHO E ACESSO DO POETA


Hoje me peguei pensando em Vinícius de Moraes, o poeta de corpo e alma. Grande poeta, grande boêmio. Uma força criativa da Natureza.
Até então só havia me dedicado a audição de sua arte, ao deslumbre de sua obra, mas, com a facilidade interativa patrocinada pela Google tive a curiosidade de conhecer um pouco da biografia desse gênio brasileiro.
O material é farto. Me chamou a atenção uma auto denominação cantada pelo poetinha: “Sou o branco mais negro do Brasil.”
Frase de efeito, bem riscada e recheada de uma ideologia contestadora do jeito que cabe aos poetas.
Vinicius não nasceu pobre. Há bem da verdade deve-se dizer que era rico e com uma rica tradição. ”...seu avô materno, Antônio Burlamaqui dos Santos Cruz. São seus pais d. Lydia Cruz de Moraes e Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, este, sobrinho do poeta, cronista e folclorista Mello Moraes Filho e neto do historiador Alexandre José de Mello Moraes” .
Tinha berço o poétinha.
Batizado na maçonaria por disposição do avo, estudou no “Colégio Santo Inácio, na rua São Clemente, onde conheceu gente como Moacyr Veloso Cardoso de Oliveira e Renato Pompéia da Fonseca Guimarães, este, sobrinho de Raul Pompéia”, (amigos de infância).
Era meu colega, Bacharel de Direito da Rua do Catete. Mas não tinha vocação para a advocacia, ramo apertado em regras e prazos que por certo sufocariam o poeta, que era poeta e vivia a vida de poeta como constatou Drummont.
Há gente que não considera arte como trabalho. Você diz: “Sou escritor”; e a pessoa completa: “mas trabalha com quê?”
Já tentou escrever um livro? Um conto? Uma matéria de internet? Pois é...
Escritor, poeta, blogueiro... Tudo isso é trabalho e dá trabalho. Posso ouvir a voz de meu pai dizendo: “trabalho é algo que alguém te paga pra fazer, se você faz de graça é hobby”.
Mas meu pai é sem graça como todo pai. Fica se preocupando com detalhes como aluguel e comida, enquanto o mundo precisa é de poetas como Vinícius, que não se preocupavam com esses detalhes materiais.
Tô brincando.
Todo mundo se preocupa com o material. Até o poeta que desde muito cedo trabalhou como escritor e compositor e era Bacharelado em Letras. Mais tarde, formou-se como Oficial da Reserva (CPOR). Substituiu Prudente de Morais Neto, como representante do Ministério da Educação junto à Censura Cinematográfica, foi Diplomata, escreveu críticas de cinema, colaborou com jornais e revistas, foi agitador cultural (dos bons) e de quebra estudou cinema com Orson Welles e Gregg Toland. Ou seja, trabalhou pra caramba o poétinha.
Mas a bola que eu quero levantar não é a do poeta, que já tem a bola no espaço infinito. Quero me ater à questão do acesso.
Aqui o meu texto dá uma virada e fica meio sisudo, mas vale à pena.
Já pensou em quantos poetas estão “esnucados” (pra quem joga bilhar) numa situação de falta de acesso. Quanto vale saber ainda na infância que existe uma escola de Oficiais e que existe uma carreira militar.
Já perceberam que na biografia de grandes personagens sempre aparece o nome da escola primária seguida dos amigos de infância que estudaram na mesma sala e que se tornaram “gente importante”.
Pôxa, é impossível concorrer. Tem gente que começa o network no berçário...
Quanto vale o acesso a uma escola básica decente?
E para ser diplomata? O português perfeito deve vir seguido do inglês mais que perfeito. Como adquirir tal fluência se o máximo de cultura da população é novela que diz “Eu amo ela, Eu amo ela da galinha?”
Acesso!
Quem sabe das coisas desde cedo leva vantagem na vida.
Já ouvi falar de gente que faz tradução livre de coisa que lê no inglês, no Frances, no alemão... e publica como texto inédito no português. Faz isso porque tem acesso e a maioria das pessoas não. Assim o plágio se torna genial. Quem vai saber?
Quanto vale um o acesso a um segundo idioma? Uma ida ao museu ainda na infância? Conhecer teatro e realmente ler os clássicos da literatura?
A maioria dos brasileiros não teve acesso às mesmas coisas que Vinícius e seus amigos.
Se fizermos o recorte racial (já que Vinícius era o “branco mais negro do Brasil”) a questão do acesso vira piada de mau gosto.
O negro representa nada em termos de diplomacia no Brasil, por isso há o programa de bolsa para negros nesta área.
Em matéria de network então... Na minha biografia vai constar que estudei no EEPG Profª Maria de Lourdes Guimarães, em Santo André, onde conheci gente como Esquerdinha, Bolinha, Waltão, Tripa e Pelézinho (em memória).
(Desculpa se me esqueci de alguém e aproveito pra mandar um salve pros manos do outro lado da muralha, vida loka é nóis).
Fica difícil quando não se tem acesso ao básico.
Como se pode ver, A negritude de Vinícius não estava na biografia, nem na afrodescendência. Tinha uma negritude de curioso sincero, deslumbrado com a religiosidade e musicalidade do negro. Amava nosso gingado, nossa mandinga e nossas mulheres.
Se bem que de seus nove casamentos nenhum se deu com mulher negra ou pobre. Talvez a baiana Gesse (a bruxa) possa fechar essa lacuna. Em todo caso, amava-nos platonicamente como cabe aos poetas.
Olhando sua intensa jornada neste planeta penso que não deve ter sido fácil fazer os sambas que Vinícios fez, sem contar piada (pois quem faz samba assim não é de nada) .
Fácil foi, para alguém com sua formação, se considerar e ser considerado o branco mais negro do Brasil.
Um orgulho para os brancos ou para os negros?
Para os brasileiros, claro.
Seria igualmente fácil se ele resolvesse ser o branco mais branco do Brasil ou se nascido negro resolvesse ser o negro mais branco do Brasil.
Mas penso que talvez, difícil... Mas difícil mesmo, é decidir ser o negro mais negro do Brasil, no Brasil.

Helton Fesan é fã de Vinicius e Johny Alf.

sexta-feira, 12 de março de 2010

GLAUCO, morto pelos merdinhas.


Não é exagero dizer que se escrevo e como escrevo tem muito haver com Glauco Vilas-Boas.
Geraldão, Geraldinho, Dona Marta, Los três amigos... Me deram um jeito mórbido e transgressor de rir.
Bem, dizer que a noticia me abalou é pouco. Dizer que foi uma imbecilidade é pouco. Então dizer o que?
Chorei trancado no banheiro fazendo beicinho, até sentir Dona Marta bater no meu ombro e perguntar com os peitões de fora: Ce quer colinho?
Se fosse o Geraldão tinha oferecido algo mais útil...
Os políticos bundões e calhordas, crianças empolgadas com o poder, perderam um opositor. Até eles devem estar tristes, porque lhes falta vergonha na cara.
Os merdinhas que o assassinaram (e também seu filho) provavelmente nem se deram conta do que fizeram.
Um pai, um marido, um filho, um irmão, foram subtraídos da vida. E os merdinhas nem ligam.
O Brasil perdeu um ícone da cultura conhecido e reconhecido no mundo. E os merdinhas nem ligam.
Uma geração se despede tristemente de um de seus inspiradores. E os merdinhas nem ligam.
Zé do apocalipse estava certo, o Brasil é o berço de uma nova raça. Os Mérdileiros.
Sei que os humoristas não merecem ir pro céu. Mas Glauco não merecia morrer. Então estou fazendo um abaixo assinado para que ele seja recebido no paraíso com todos os seus personagens. Não que ele queira ir pro céu, mas é que lá também tem uma turminha que merece ser esculachada pelas suas tirinhas.
E la nave vá...

sexta-feira, 5 de março de 2010

MORRE JOHNNY ALF


A voz precursora da bassa nova calou-se nesta madrugada. Sexta-feira 5.

Johnny Alf, estava internado em estado grave no hospital Mário Covas, em Santo André, onde residia em uma casa de repousos.

“Ah! se a juventude que esta brisa canta ficasse aqui comigo mais um pouco...”


Quiseramos nós, que conhecemos a genialidade deste músico (da envergadura de Tom Jobim e Vinicios de Moraes) que a juventude de hoje o conhecesse. Ficariam mais que um pouco na companhia deste titã.

Choro a perda deste alfa, deste mestre, deste negro, deste orgulho.

Se fosse outro lugar, outra gente, outra terra, outros costumes, nossa lembrança de bossa nova não seria outra senão Alfredo José da Silva. Não haveria lembrança que não lembrasse Johnny Alf.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

ENCHENTES, ENTRE O TUDO E O NADA, MUITA AGUA VAI ROLAR.



“A gente demora pra comprar as coisas com tanto sacrifício e perde tudo num dia...”
É a frase mais falada de todo e qualquer telejornal que se proponha a cobrir as enchentes em São Paulo.
Perder de uma hora para outra tudo que se conseguiu com tanto sacrifício... O que isso significa?
Muito Azar? Uma injustiça? Destino? Falta de planejamento...
Fiquei analisando o ocorrido, triste e impotente como em regra são os telespectadores de telejornal. Uma casa ruiu, outra foi invadida pela água, outra foi levada pelo córrego e o pobre coitado perdeu tudo.
O rosto aborrecido do prefeito lamenta a situação e nada aponta como solução prática, não por incompetência ou negligencia, mas por ela simplesmente não existir.
Não existe solução prática para a destruição em grande escala. Nem se houvesse dinheiro sobrando (o que não há) se poderia chegar a uma “solução prática”.
O que pode ser prático para alguém que perdeu tudo? Nada!
Qualquer caminho será um difícil caminho de reconstrução. Solução prática é uma meta simbólica e desejável que serve tão somente de parâmetro para o inalcançável.
Reconstrução! Talvez seja essa a palavra. Reconstruir é construir de novo. Fiquei pensando nisso e tentei chegar o mais perto da solução prática que não existe. Na prática as pessoas perderam casas, moradias...
Então teremos que reconstruir moradias.
Mas como? Como se constrói uma casa? Uma moradia digna?
De novo me veio a sensação de impotência. Não sei construir casas...
Mas quem constrói casas é pedreiro e não é tão difícil encontrar pedreiros, certo?
Errado!
O telejornal também me disse que está faltando mão de obra na construção civil e tinha um engenheiro reclamando disso... Peraí... Também tem o engenheiro, que é quem projeta as casas de modo que elas não caiam...
O engenheiro também pensa nas complicações da casa em relação ao bairro, à cidade... Se cabe, se não cabe, se pode, se tem rede de energia elétrica, se tem rede de esgoto. O Engenheiro que faz a casa pede permissão para o engenheiro que ta na prefeitura que vai analisar o impacto no trânsito local, se o lugar da construção tem estrutura para receber aquela casa, na valoração ou desvaloração urbana, se o esgoto não vai entupir quando tiver muita água, quando chover...
As casas perto do córrego tem projeto engenharia? Tem habite-se?
Não importa. O que importa é que as pessoas eram donas da casa e perderam tudo. A casa tava lá, no nome dessas pessoas e agora elas não tem nada.
Peraí... Casa no nome da pessoa é escritura. Tinha escritura?
Mas isso custa dinheiro e as pessoas que lá estão são muito pobres, isso é uma verdade incontestável.
Tiveram que deixar tudo pra traz. Roupas, televisão, DVD, Rádio, Mp3, Geladeira, micro-ondas, computador, ou seja, tudo.
E o governo não lhes dá nada.
Em alguns lugares não podia ter casas, era área de manancial. Não podia ter casa mas tinha asfalto, tinha água encanada, tinha rede elétrica...
Sr não podia ter casa, porque tinha estrutura? Como se instala estrutura urbana onde não pode ser urbano? O engenheiro não viu isso?
Mas a prefeitura não tem engenheiro pra dar de graça, pra ver tudo... Tudo bem que tem um projeto do governo estadual que envia verba para a prefeitura regularizar habitações irregulares ( regularização de núcleos habitacionais) mas a maioria dos prefeitos não se cadastraram.
Agora não dá pra fazer nada. Pessoas perderam tudo. Não tinha registro, não tinha habite-se, não tinha projeto aprovado por engenheiro, laudo técnico, autorização do setor de habitação, escritura, segurança... Não tinha nada, mas as pessoas iam vivendo lá sem que a prefeitura dissesse nada... Tudo meio irregular, meio improvisado, mas e daí... ninguém diz nada e nem tem nada com isso...
Pra que implicar com essa gente pobre, cobrando delas documentos e laudos. Pra que mexer com o prefeito que faz de um tudo pra esquecer dessa gente que não tem nada?
Mas como é que quem não tem nada, consegue perder tudo?


1 ANO DEPOIS...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O SABER DA ESPERANÇA.

Talvez se pulássemos sete ondas no reveillon
Se jogássemos rosas ao mar
Contando com a magia de seu falso infinito
Se fizéssemos pedidos a estrela cadente
Que desenha uma vontade no céu iluminado
Se apagássemos a vela fincada no bolo desenhado
Ao mesmo tempo em que apertamos os olhos
Pensando no desejo esperado
Se ensinássemos para o futuro
Pesquisássemos o escuro e tivéssemos filhos
Abaixássemos ao tiro
Se víssemos na morte outra vida
Tratássemos a letal ferida
Se orássemos com fé e honrássemos nossos votos
Ah! Se fossemos devotos
Se aprendêssemos simpatias
Se cantássemos magias
Vencêssemos o oráculo
Montássemos o palco
E Fugíssemos do maligno pacto
Se nos Alegrássemos e torcêssemos no campeonato
E com a mesma paixão, essa intensa e insana devoção
Votássemos, plantássemos e nos respeitássemos
E saíssemos à rua, gritando essa luta,
de fogo, paz e giz !
Projetos do justo lugar,
Do justo país
Se trocássemos o “eu”
pôr um “nós” mais feliz
E preservássemos no peito a criança,
Saberíamos onde esta, o que é,
E o que faz a esperança.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

EU NÃO CONHECIA ZILDA ARNS

Então estava eu na rua. Passos apressados pouco antes das 5h. Uma dessas terças-feiras que andamos á deriva. Pensei em ligar em casa, em passar no clube, em falar com um amigo...
A minha frente o asfalto estático servindo de rota para os meus sapatos gastos, mas lustrados. Subiam também os engraxates. Garotos maltrapilhos, todos pretos ou quase pretos de tão pobres.
Foi rápido e nem sei por que guardei a cena.
- Não, não obrigado!
Talvez por ter que dispensar os serviços dos engraxates, interrompendo meus pensamentos sobre a terça feira morta e o asfalto estático.
Mais tarde, toquei-me que havia um mundo contrário. Um mundo não eu.
Uma terra de garotos e adultos maltrapilhos, que não tiveram a sorte de uma terça monótona e de um asfalto estático.
Talvez lá também houvessem pessoas irritadas querendo ficar dentro de seus próprios pensamentos. Gente que dispensa garotos engraxates, ou de farol, ou só de rua com a mesma indiferença e irritação que eu.
Fiquei pasmo, horrorizado, impotente...Envergonhado.
Eu que só queria ficar dentro de meus pensamentos, que só enxergava ó asfalto estático e meu sapato lustrado, conheci a marca póstuma de uma compatriota.
Nascemos no mesmo país, mas vivemos em mundos distantes (eu no meu mundo, ela no mundo de todos).
Pensei em todas as crianças maltrapilhas que ela ajudou, nas mães que a seguiram, nos governos sensibilizados...
Pensei na minha ignorância e que só agora, diante do horror da perda, que pude conhecer Zilda Arns.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

NÚMEROS DO ANO

Número de vezes que acordei – 365 (ufa...)
Que lembrei que acordar era um milagre – 02
Que agradeci por ter acordado – 01

Número de vezes que menti: + ou – 100
Que acreditaram na mentira: como saber?
Que a mentira me ajudou: 0

Número de vezes que eu disse “Eu te amo”: 450
Que deveria ser dito: 1350
Que era verdade quando dito: 450

Livros lidos : 16
Livros escritos: -
Textos começados: incontáveis
Textos terminados: ainda falta alguma coisa...

Horas no computador: 2.190
Horas úteis no computador: 730
Horas com a família: 2190
Horas com a família com qualidade: 1460
Horas de trabalho: 4380

Vezes que perdi a cabeça: 52
Que eu tinha razão: 26
Que pedi desculpa: 4

Vezes que ajudei alguém: não lembro
Que me ajudaram: bastante
Que colaboramos: bem poucas

Vezes que chorei: 02
Que sorri: 600
Que me irritei: 1200
Que nem percebi o que tava acontecendo: hum?

Vezes que reclamei: incontáveis
Que agradeci: já falei que 02
Que me senti culpado: quer parar?

Vezes que me contestei: contestando
Que mudei de atitude: mudando
Que peguei você: agora

Helton Fesan

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

UM BRASIL QUE NÃO LÊ, NÃO LÊ POR QUE?


O Brasil é um país que não lê.
Infelizmente a assertiva acima é uma realidade que assola nosso país, porém, tais discussões parecem não se refletir na sociedade.
Ainda é comum ouvir de pessoas de todas as idades a incomoda frase: “Eu não gosto de ler”.
Pode-se analisar e deduzir de várias maneiras a declaração de asco pela leitura: que é uma questão de gosto, de costume, de incentivo e etc. Todavia, pode-se também problematizar a declaração com uma nova questão: “Não gosta de ler o quê?”
Neste ponto, teremos que voltar nosso olhar para o ambiente escolar, maior referência de leitura e formação de leitores de nossa sociedade e analisar o “quê” e “como” é disponibilizado o material de leitura na formação do aluno.
Em breve busca para as atuais políticas de incentivo à leitura e nos órgãos que, direta e indiretamente ditam as regras de adequação literária a serem implantadas no momento de escolha, aquisição e disponibilização do livro em sala de aula vemos um avanço tímido após a comemorada lei 10.639/2003.
Certo que, a exemplo da ocupação de outros espaços culturais, também a literatura não se mostrou como reflexo fiel, ou ao menos próximo da nossa sociedade. Muito calcada em uma ideologia Européia, quando não seguindo uma política de higienização racial, a escrita é um dos maiores instrumentos de resistência dominante de uma elite branca, refletindo o modelo idealizado por estes e travando uma intensa labuta na mantença do status quo.
Já peço desculpas pelo uso de termos como “elite branca” e “status quo”, que pelo excesso já tornaram-se lugar comum de uma irritante cantilena de classe. Porém é igualmente irritante e insuportável os repetidos artifícios da classe dominante para não alterar o modelo de sociedade que lhe beneficiam.
Dentre estes artifícios, a escrita e a leitura são, sem dúvida, símbolos de poder e civilidade superior, que combinam perfeitamente com ideologias de dominação.
Por estes motivos, minorias de nossa sociedade (e aqui lembramos que o termo minoria não esta ligado ao fator quantidade e sim ao acesso e retenção de direitos) não foram contemplados como criadores de textos ou como leitores em potencial.
Tratando da condição específica dos negros brasileiros, estes foram por longa data vedados do direito à educação. Por óbvio que criou-se um exército de analfabetos.
Não era necessário (nem desejável) criar uma literatura que contemplasse estes recém libertos e incômodos moradores que, inclusive, desejava-se eliminar da sociedade com uma política de embranquecimento social, a saber, a Eugenia.
Com isto, evidenciou-se uma política em larga escala de exclusão literária, ou exclusão de leitores.
É necessário lembrar que, a nossa sociedade em meados da abolição, quando dois terços dos negros brasileiros já eram libertos ou, auto-libertados em quilombos e afins, já somavam coisa de oitenta por cento da população.
Mesmo com a importação em massa de imigrantes, que, em regra também eram analfabetos, não seria possível “letrar”, ou ao menos alfabetizar a massa da sociedade brasileira sem beneficiar também a população negra, o que, como já dito, não era desejável.
Tais fatores históricos nos dão uma hipótese da formação de um povo que não lê, mas é pouco para explicar, ou ao menos começar a entender, a cristalização deste estado de coisas.
O abandono de políticas Educacionais e, mais especificamente de políticas de leitura, podem ser um referencial desta procura, mas, talvez, o modelo dessas escassas políticas, e a forma de sua implementação, possam nos revelar um pouco mais sobre o tema.
Se houve negligencia (ou sabotagem) com leitores em potencial, não foi diferente com os escritores que se dispuseram a retratar a pluralidade social.
A escrita étnica vive até hoje um ostracismo criado pelo mito da “democracia racial”. Há ongs como o Quilombhoje. que agrupam escritores motivados tão somente pelo idealismo de uma literatura brasileira igualitária.
Também louváveis iniciativas acadêmicas como a Universidade Federal de Minas Gerais – letras, que mantém um grupo de pesquisa de literatura afrobrasileira e o portal LITERAFRO, no qual se encontra importante amostra de escritores.
O Brasil, que em muitos aspectos é o criador da hipocrisia legalista, com a falsa ideologia de harmonia de raças em sua sociedade, acabou por marginalizar toda e qualquer discussão ou manifestação que visasse levantar hipóteses de tratamentos desiguais motivado por discriminação racial. Bastava, e ainda basta em alguns casos, afirmar-se que “No Brasil não existe preconceito” e qualquer projeto ou manifestação com este teor estava imediatamente descartada.
A cruel sabedoria deste dispositivo consiste em acusar de racista justamente quem deseja discutir o racismo. Neste diapasão excluiu-se, e ainda se exclui escritores cujo tema central é o embate racial da sociedade brasileira.
Se a discussão racial não contempla o universo desejado nos livros, não é diferente quando se fala na vivência e dramas da população negra. Durante muito ano, ignorou-se qualquer possibilidade de romantizar ou dramatizar o cotidiano do negro.
Tal exclusão dá-se basicamente no âmbito acadêmico, ou da literatura considerada boa ou clássica.
Quando contemplada a existência de tais personagens, aeram condenadas a papéis subalternos e ou ridicularizados, o que, por óbvio não era a melhor opção de introdução de leitura para quem se identificasse com tais personagens.
Assim, a população excluída não lia, pois, não o sabia, e, quando o sabia, não lia, pois, não se reconhecia.
Evento semelhante ocorreu na teledramaturgia brasileira, o que é genialmente tratado pelo documentário A Negação do Brasil de Joel Zito Araújo.
Esta exclusão literária, infelizmente não era, e não é, desabono exclusivo da população negra. Em larga escala o mesmo se faz com o índio (que enclausurou-se como “folclore” no mundo literário) e, em outra proporção, com a mulher o deficiente e outras minorias que ainda hoje lutam por lugar ao sol social brasileiro.
Necessário dizer ainda, que a origem racial do produtor do texto, também importava, e ao que tudo indica ainda importa, no momento da seleção, aquisição e disponibilização do livro.

sábado, 2 de janeiro de 2010

CONFLITO NO SURINAME - BRASILEIROS E QUILOMBOLAS (MELHOR OLHAR DE NOVO)

Como todo brasileiro fiquei apreensivo em ver a noticia de que, no Suriname, promovera-se um ataque contra brasileiros. Gente com facão na mão, assassinatos, estupros e incêndios contra nós, os simpáticos e alegres brasileiros... Não faz sentido.
Depois do primeiro impacto, lembrei que, como todo brasileiro, tenho uma percepção exagerada de nossa simpatia e capacidade de ser amado. Nós brasileiros não somos tão “boa praça” assim (em alguns casos somos é folgados).
Fui aos telejornais e constatei que (como quase todo brasileiro) eu não fazia a menor idéia de que raios se tratava o Suriname. Mas foi na frente da TV que ouvi repetidas vezes a frase: “Brasileiros atacados por quilombolas.”
Sim, quilombolas. O que aqui no Brasil constitui os inofensivos e quase extintos remanescentes de quilombos, no Suriname apareceu como uma facção raivosa e descontrolada com sede de sangue.
Neste momento minha orelha levantou: peraí, a história tá começando a ficar mal contada!
Corri para a revista Veja, cuja assinatura ganhei de uma leitora - valeu Mihokko! ;) - e que em matéria de história mau contada é imbatível.
Dito e feito, eu sabia que a boa e velha Veja não me decepcionaria. Com uma reportagem da turma do fundão de Leonardo Coutinho, recebi a mais genuína falta de informação preconceituosa. Na reportagem tem-se a impressão de que o Suriname é uma floresta habitada por um grupo de negros guerrilheiros que espalham o terror no país, juntamente com javaneses, indianos e a máfia Rússia e chinesa. Palavras chaves: Terror no Suriname, Encrenqueiro, Descendentes de Escravos Africanos, Comportamento Tribal e besteiras, besteiras e mais besteiras...
A reportagem resumiu todo o conflito a uma briga de bar, na qual o malvado, arruaceiro e drogado quilombola Wilson Apensa, agrediu o inofensivo gente boa brasileiro Adilson Oliveira que, armado de faca, cravou-a no coração de Wilson bandido e depois fugiu.
Daí a gangue de Wilson se vingou barbaramente dos brasileiros inocentes (segundo a reportagem, garimpeiros e prostitutas).
Falemos a verdade, muito simplório acreditar que não havia nenhuma tensão anterior entre os brasileiros e este grupo.
Lembremos que a atividade daquele garimpo é ilegal e se dá, adivinha, em terras quilombolas.
Não farei aqui nenhuma defesa à violência e selvageria empregada contra qualquer grupo, mas, quero entender e ajudar a entender melhor o fato.
Passado o primeiro impacto fui ao material disponível para tentar entender minimamente o país, sua formação e consequentemente o conflito.
De cara encontrei uma reportagem de 2004 que denuncia o risco de desaparecimento dos quilombos do suriname , graças a exploração ilegal de madeira e minérios em suas terras. A denuncia foi feita pelo antropólogo norte-americano Richard Price, que convive há 40 anos com as comunidades do Suriname e da Guiana Francesa, adivinha onde, no Fórum Cultural Mundial em São Paulo : 0.
Então concluo que a situação desses garimpos não é o que se pode chamar de pacífica, assim como não é a relação de índios e grileiros aqui no Brasil.
Interessante que o Suriname é o único país da América Latina (e acho que do mundo) que não reconheceu o direito a terra das comunidades indígenas e quilombolas, o que é um atraso nas relações humanas e democráticas.
E para quem acha que essas comunidades são “tribos selvagens” que vivem como há 200 anos atrás (o que é bem civilizado do ponto de vista ecológico) os povos Quilombolas do Suriname preservaram a essência de sua cultura africana e desenvolveram uma escrita própria, o que nem é preciso comentar o valor do ponto de vista antropológico e a importância do ponto de vista de resistência cultural. (ver AS NAÇÕES MAROONS DO SURINAME ).
O Suriname é uma ex colônia holandesa (século XVII) , que, a exemplo de nós brasileiros, teve sua sociedade fundada na pior maneira de organização política: a escravista Colônia de Plantação - aquela em que se usa mão de obra escrava para explorar um território sem ter nenhuma preocupação com o lugar, nenhum respeito pela humanidade do escravizado e nenhuma intenção de morar na colônia explorada.
Foi abandonada a própria sorte (a tal independência) em 1975, já que não era economicamente viável para os países baixos e dava mais prejuízo tela como colônia do que como país.
Mais ou menos como a chácara que a família tem mas nunca visita, não paga os impostos e nem os encargos e tenta desesperadamente vender a bucha (neste caso a Holanda quis e vendeu pro próprio caseiro sem pagar os encargos trabalhistas).
Numa terra fronteiriça (digo no sentido de tensões humanas) onde convivem Europeus, Negros (Crioulos), Quilombolas, Ameríndios, Javaneses, Indianos e Mulatos (que não se identificam com os quilombolas) pode-se imaginar uma situação parecida com a do Brasil no sentido de sentimento de país.
Porém isso não ocorre. O Suriname ainda sofre pela falta de sentimento de comunidade. Para se entender é possível se ter uma sociedade (pessoas organizadas no mesmo território e sob um mesmo governo) sem que se tenha uma comunidade (pessoas que guardam pontos comuns como lugar, idioma, cultura e religião).
No caso do Suriname, os grupos citados apenas moram no mesmo lugar, mas, de modo geral, não falam a mesma língua, não professam a mesma fé, e não compartilham de uma mesma cultura ou sentimento patriota.
Neste cenário, de maneira até certo ponto previsível, veio um Golpe de Estado em 1980 por militares de baixa patente liderados por Dési Bouterse , dando a desculpa necessária para a Holanda se retirar de vez e abrindo caminho para o apoio cubano, e, dando inicio a uma forte resistência civil (dos vários grupos citados).
O processo democrático só foi retomado em 1983 quando houve o rompimento do governo militar e com o apoio do Brasil e Venezuela à aproximação deste país com os demais Sul–Americanos.
Ainda pensando em nossa história, tivemos o comemorado Quilombo de Palmares que resistiu mas caiu no final. O Suriname teve pelo menos 06 (seis) quilombos que não só sobreviveram como obtiveram com a luta o direito de liberdade por meio de tratados reconhecidos e válidos. (como aquele que prometeram a Ganga Zumba e não cumpriram)
O medo de revoltas sangrentas contra a escravidão era uma realidade bem mais presente para os colonizadores do Suriname, entre eles alemães, holandeses e, quem diria, judeus, aquele povo tão injustiçado pelo holocausto mas que foi protagonista dos mais cruéis e inacreditáveis relatos de maus tratos contra os escravos africanos no Suriname (até tu Brutus... eu não esperava...)
Também os Mulatos se constituíram como segmento autônomo naquela sociedade. Diferente do Brasil (país dos pardos) os mulatos formaram um grupo com ideologia, história e nomes que lhes dão autonomia reconhecida por eles e pelos demais grupos.
Interessante observar que, segundo os textos lidos, se no Brasil há uma identificação aberta e crescente entre negros e pardos, no Suriname, os mulatos vezes se aproximam de negros urbanos, vezes dos Europeus e sentem-se essencialmente distantes dos Negros do Mato ou Quilombolas, chegando mesmo a convivência difícil e contenciosa.
Há realmente uma fraca percepção de governo no país, o que provavelmente dificulta-se pela citada ausência de sentimento de comunidade ou, indo além, de povo.
A impressão é que grupos como judeus, quilombolas, javaneses e indianos ainda se fecham em guetos sem desenvolver um patriotismo mínimo que leve a uma identidade nacional para um progresso possível.
Verdade que seria necessário ver com os próprios olhos a sociedade surinamês para entendê-la de forma aberta e sem estereótipos, mas, num breve estudo, dá pra ter certeza que o Suriname não é só selva, e que o episódio com os brasileiros não foi mera briga de bar.
Para agravar a situação há os estrangeiros que, em busca de riqueza instantânea, atuam no país com a mesma mentalidade do primeiro colonizador holandês - explorar ao máximo sem nada dar em troca. Neste grupo de predadores estão os chineses, os russos, os traficantes de sei lá onde e nós... os brasileiros gente boa.