terça-feira, 30 de outubro de 2012

Levanta que o Jogo é de Várzea



A garganta seca, o peito estourando, o suor escorrendo pela testa e ardendo nos olhos.
Várzea é isso.
Uma campina aberta de terrão vermelho, um sol castigando o lombo, uma bola, um objetivo e vinte e dois fulanos entregando a vida por este objetivo.
Nem sempre é sol.
As vezes chove como nos dias de Noé e os vinte e dois fulanos parecem caranguejos aterrados no mangue. É o instinto que diz quem tá no time de quem.
 É a vida meu amigo, é a vida.
Ninguém vai sentir dózinha de ti. Ninguém liga se tu não tomou café da manhã, se teu chefe te dá nas bolas ou se tua mulher se atraca com outro bigodudo...
Aqui o que interessa é fazer gol.
Foi falta! Se o juiz não apitou segue o jogo. Não foi falta! Se o juiz apitou, cobra e segue o jogo. De todo jeito o jogo segue. Aqui não se discute justiça, se discute futebol.
E o que é futebol?  É a vida.
Confesso que de vez em quando se leva uma entrada desleal, maldosa, que poderia quebrar as pernas...
Mas não quebrou. Doeu! Pra cara...
Mas não quebrou.
Então meu camarada, não chora não, levanta que o jogo é de várzea.
E segue o jogo.

Helton Fesan

sábado, 22 de setembro de 2012

SORRISO FALSO, BRONCA SINCERA.


Dias atrás estava eu com um amigo dos tempos de colégio relembrando astúcias e traquinagens. Falamos também sobre educação e como a vida nos levou aos nossos destinos profissionais.

Na conversa surgiu um pensamento válido que compartilho com vocês:

 Nem sempre quem lhe é amável lhe é amigo.

Quase sempre quem lhe é duro na cobrança lhe esta fazendo o bem.

Chegamos a esta conclusão pois nos recordamos de professores duros que nos ensinaram muito. E lembramos também daquele professor gente boa, brincalhão e piadista que, ou nada ensinava pra ninguém e tocava a vida como se a matéria não existisse, ou, surpreendentemente, nada ensinava e na hora da prova cobrava tudo que não ensinou e ferrava todo mundo.

Compartilho isso em momento oportuno em que as ruas estão repletas de “gente boa e carinhosa” buscando ganhar nossa amizade.

E nós, eternos carentes, solitários em nosso próprio ser, precisamos do sorriso afável e tapinha nas costas que nos é oferecido.

Precisamos de alguém que diga que conhece nossos problemas, que entende nossa situação.

É o professor boa praça nos oferecendo carinho.

Caros, pensem bem no que é carinho de verdade.

Carinho é fazer o que deve ser feito mesmo que de maneira dura para lhe garantir um futuro digno.

Carinho é o socorro na hora precisa e a bronca merecida.

Este texto é simples e não necessita de alongamentos e cortesias. Não vou rasgar seda com meus leitores.

A mensagem é clara: Não de o seu afeto sincero a falsos sorrisos.

Valorize quem trabalha duro, mesmo que de maneira dura, esta pessoa provavelmente esta lhe fazendo um carinho.

 

Helton Fesan

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

SÃO PAULO E O POVO QUE DEVORA A NOITE

Em qualquer lugar paulista é “O paulista”.

O cara estranho meio sem ginga.

Dá aquela impressão de CDF, de deslocado, tipinho meio Caxias que anda arrumadinho só pensa em dinheiro e não sabe se divertir.

É o cara de Sampa, o Paulista.

A mina de Sampa vai na mesma esteira, tipo entojadinha.

Mas é só aumentar o som que o cara folga a gravata, a mina pede outra “breja” e devagarinho se soltam na noite sem terror nem pudor.

Paulista devora a noite.

Paulista é lobo que não disfarça, é revolução sem pausa, é louco que não rasga dinheiro.

Hip Hop crú. Rock and Roll porrado na veia...

Ninguém conhece mais de noite do que o Paulista.

É que a cidade na maior parte do tempo é cinza.

Longa e fria a garoa garante que permaneçamos dentro de algum lugar, de alguma coisa ou de alguém.

Paulista devora a noite.

Vampiros urbanos, não temos tempo para elogio rasga seda.

Me odeie, tudo bem, mas beija minha boca porque preciso de sangue quente.

Em Floripa, Madrid, na Bahia, New York, São Paulo não sai de dentro de nós.

Nosso clã aumenta com nascidos e agregados, eleitos e empossados.

Não é a fala, nem a cara que nos define.

É a gana, a fome do fazer.

Dor, Paulista absorve. Problema, Paulista resolve.

É assim porque devoramos a noite.

Deixa a beleza pra quem vai, pra quem fica: o trabalho.

Nós, o povo de Sampa, somos o exótico e vemos beleza em coisas esquisitas, em gente diferente, na tez do outro.

Acende a luz e baixa o dimmer.

Anjos e fadas nos deixarão pela manhã.

O mundo observa enquanto devoramos a noite.

Helton Fesan