quinta-feira, 14 de julho de 2016

SINUCA DE BICO, CAMPANHA E IDEOLOGIA.

Quem já dedicou tempo em uma mesa de sinuca conhece bem a expressão sinuca de bico.
Ela ocorria quando a bola se acomodava de uma maneira que os “bicos” da caçapa não lhe davam opção de direção, ou se ia em frente ou se caia na caçapa.
Indo em frente poderia acertar sua própria bola ou bola nenhuma e o resultado novamente seria a caçapa.
Ou seja, se perdia de todo modo.
A estratégia na sinuca é atacar defendendo-se. Matar as bolas do adversário sem expor as suas.
Me parece que podemos fazer um paralelo com a  sinuca e a política. Em época de campanha (e pré campanha para os mortais como eu), vemos muitos querendo matar nossas  pobres e desprotegidas bolas e todos defendendo suas próprias bolas com todas as forças.
Há também, claro, quem não tem mais bolas nem para matar nem para defender.
De minha parte escolhi uma ideologia agressiva para as regras atuais do jogo. Não trocar favores, não comprar votos, não pedir votos por pedir, não fazer parte do mercado informal eleitoreiro.
Isto significa que quase todos os dias vejo minha bola esnucada em uma incomoda sinuca de bico.
Pessoas que pedem de maneira aberta favores em troca do seu importante apoio, que cobram pequenos tráficos de influência em favor de pessoas ou de grupos prometendo reuniões pomposas e numerosas com lideranças de todos os tipos e credos.
Deve haver uma tabela oculta para classificar tais reuniões, mas é difícil saber, pois tudo é meio que subentendido. Quanto vale uma palavrinha no púlpito? Botar uma palavra no terreiro? um chá da tarde na casa da vizinha que vende coisas e conhece todo mundo? uma conversa com a diretora da escola? Enfim… A lista é infinita.
Mas veja que tal mercado faz parte de uma ideologia arraigada e nefasta que nos diz que o voto é algo negociado. Assim, votamos no cara mais legal e o cara m ais legal é aquele ou aquela que “ajuda” mais as pessoas.
A verdade que podemos negar, que podemos fingir que é outra coisa, que podemos inventar eufemismos mas, em verdade ISTO É COMPRA DE VOTOS.
E tudo que compramos, nos pertence.
Então meus amigos e talvez futuros eleitores (lembrem-se que ainda não estou em campanha) para deixar minhas bolas em situação menos incomoda e fora da sinuca quero declarar aqui para todos:
“Durante este período eu, pré candidato a Vereador da cidade de Santo André, para que não se dê a impressão de compra de voto ou troca de favores, e para que mantenha a certeza que todos  os votos que irei conquistar se darão de maneira livre e desimpedida, sem vícios de consentimento de qualquer espécie, não poderei: a) Prometer cargos futuros no meu gabinete em caso de ser eleito; b) Doar jogos de camisa de futebol; c) Doar prendas, valores, ou qualquer outro recurso para festas e atividades de comunidades das quais  eu não faça parte ou frequente de maneira assídua à mais de 2 anos; d) Fazer qualquer tipo de favor ou doação  que tenha a natureza de ganhar a simpatia de pessoas que eu não conheço ou, conhecendo, dê a impressão que tentam tirar proveito da condição de pré candidato em que me encontro.”
Então estamos conversados e esclarecidos. Peço desculpas se fui indelicado na tacada, mas quando estamos em sinuca de bico, fechamos os olhos e batemos com força pra ver se a sorte nos dá a mão.


Seu amigo Helton Fesan

#boraprapista

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Ser Brasileiro é Muito Cansativo

O título deste meu texto é auto explicativo. Não para todos os brasileiros é verdade, já que existem duas camadas que literalmente não estão nem aí. Usando termos genéricos falo de uma elite festiva e acostumada a um ciclo de corrupção e tráfico de influência para seus negócios e na outra ponta uma população pobre, sem acesso à educação básica e tragicamente viciada à intervenções paternalistas do Estado.
Sobram como recheio deste sanduíche perverso um exército de Policarpo Quaresma após a decepção com Floriano. (Aliás, não suporto o livro de Lima Barreto pois acho que ele era vidente e adaptou minha vida - futura - para sua época).   
Desde que me declarei como futuro candidato a um cargo na Câmara de Vereadores de minha cidade tenho tido acesso a um mundo invisível aberto por um portal que desconfio nunca mais poder fechar.
Me sinto como no primeiro episódio da franquia do filme M.I.B - Mens In Black, quando Will Smith começa  a  enxergar o mundo alienígena que lhe cerca.
As pessoas não mudaram, os contextos não mudaram, são nossos olhos que passam a enxergar de outra perspectiva.
Agora que já cansei os mais fúteis com minhas citações literárias e cinematográficas posso entrar em críticas mais pesadas, pois, apenas os mais amigos e os genuinamente curiosos resistem e seguem até o fim dos TexTões no facebook ou nos blogs.
Eu disse que ser brasileiro é cansativo, e é. Ao menos para os brasileiros policarpianos (que realmente desejam um Brasil como nação).
Como não achar cansativo uma copa do Mundo que deixou como legado estádios faraônicos vazios (motivados por interesses corruptos de um acordão FIFA/BRAZIL) e endividamento de um País que não cresce, ao contrário caiu 3,8% em 2015 e agora sabemos que o rombo das contas públicas é de R$ 170,5 bilhões.
Mal nos recuperamos deste evento esportivo (roubar nosso dinheiro é esporte) e temos que engolir as Olimpíadas do Rio (que continua... lindo). Sobre estes eu poderia falar que é ridículo o Estado sede de uma Olimpíada  ter a Decretação de Calamidade Pública às vésperas do evento, poderia falar das obras incompletas, da violência urbana. Poderia falar do ridículo de termos durante o evento DOIS PRESIDENTES, um sofrendo impeachment e outro interino.
Mas apenas vou citar o que pra mim é o maior exemplo de despreparo de um povo (sei que ainda não somos um povo como descreveu Darcy Ribeiro, mas aqui o termo serve) para receber seja lá qual evento for, a saber, Nós Matamos uma Onça!
Poderia ser a metáfora sobre a nossa economia e o crescente desemprego, pois quem é trabalhador sabe bem que é a onça que representa melhor o nosso pobre salário em notinhas de cinquenta, já que a Garoupa anda sumida e tem mesmo quem nunca à conheceu, nem na mesa, nem no bolso.
Pois bem, lá estava exército, lá estava a tocha, lá estava a mídia e conseguiram a proeza de deixar a pobre da onça (que nada entende de olimpíada ou de política) escapar. E, com nossa típica incompetência, ao invés de capturá-la, o que se espera de pessoas treinadas, nós à baleamos. Matamos a onça!
Pois bem, todas estas coisas ocorreram porque somos assim. Infelizmente somos assim.
Há o esforço de alguns como vemos nas recentes operações da Polícia Federal e em atitudes isoladas em todos os setores, mas no todo, no cerne de nossa formação, ainda somos tão medíocres e pequenos  que nos assusta a simples ideia do trabalho planejado, da exaltação do saber, da austeridade em detrimento da ostentação débil e, infelimente, corrente.
Como futuro candidato tenho recebido cansativos pedidos de todo tipo. Os mais comuns são empregos, jogo de camisas de futebol, cargos futuros… Coisas que me fazem pensar em Cabral dando espelho aos Tupis.
Os mais abastados, que estão na outra ponta não me pedem nada, apenas me olham cuidadosamente e ficam à espreita, imaginando se no futuro serei um aliado ou se precisarão aumentar os impostos e taxas do meu humilde sítio, ou se meu fim será mesmo a prisão e ou o hospício. (Se você não leu Triste fim de Policarpo Quaresma não entenderá as referências e aconselho mesmo que leia).
Enfim, este TexTão que tantos odeiam não me trará votos futuros nem coisa alguma, são apenas ideias de um cara que gosta de seu cavaquinho de sua Santo André e se meteu a falar de um tal Brasil que hoje não está nas mãos dos desesperançosos e cansados brasileiros.

Helton Fesan