quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

EU NÃO CONHECIA ZILDA ARNS

Então estava eu na rua. Passos apressados pouco antes das 5h. Uma dessas terças-feiras que andamos á deriva. Pensei em ligar em casa, em passar no clube, em falar com um amigo...
A minha frente o asfalto estático servindo de rota para os meus sapatos gastos, mas lustrados. Subiam também os engraxates. Garotos maltrapilhos, todos pretos ou quase pretos de tão pobres.
Foi rápido e nem sei por que guardei a cena.
- Não, não obrigado!
Talvez por ter que dispensar os serviços dos engraxates, interrompendo meus pensamentos sobre a terça feira morta e o asfalto estático.
Mais tarde, toquei-me que havia um mundo contrário. Um mundo não eu.
Uma terra de garotos e adultos maltrapilhos, que não tiveram a sorte de uma terça monótona e de um asfalto estático.
Talvez lá também houvessem pessoas irritadas querendo ficar dentro de seus próprios pensamentos. Gente que dispensa garotos engraxates, ou de farol, ou só de rua com a mesma indiferença e irritação que eu.
Fiquei pasmo, horrorizado, impotente...Envergonhado.
Eu que só queria ficar dentro de meus pensamentos, que só enxergava ó asfalto estático e meu sapato lustrado, conheci a marca póstuma de uma compatriota.
Nascemos no mesmo país, mas vivemos em mundos distantes (eu no meu mundo, ela no mundo de todos).
Pensei em todas as crianças maltrapilhas que ela ajudou, nas mães que a seguiram, nos governos sensibilizados...
Pensei na minha ignorância e que só agora, diante do horror da perda, que pude conhecer Zilda Arns.

2 comentários:

  1. Realmente a Zilda era uma pessoa fenomenal, daquelas que fazem a gente repensar as nossas atitudes, mas tomemos seu texto como lição para que não fiquemos somente na ideologia de ser melhor.

    ResponderExcluir
  2. o texto merece parabens a atitude é reprovada. mas que eu para questionar, já que assim como o asfalto sempre estive estático.

    ResponderExcluir