segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

FUNK SE A LEI?

Você não gosta de pancadões. Entendo, também não gosto. Não gosta do funk atual? Ok, também não gosto.
Mas, vejamos o que diz a lei: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, (...) inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;

Temos acima a Lei máxima, nossa Constituição Federal, ou seja, não cabe apresentar decreto ou lei Estadual alguma para alterar o que está acima descrito.
Assim, o Pancadão é autorizado por lei. E se vão muitas pessoas, é porque muitas pessoas gostam.
Se o gosto é ruim, e ao meu ver é mesmo, é discutível. As pessoas que lá estão poderiam estar fazendo outra coisa? Poderiam mas não estavam e paciência, ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer o que os outros acham.
Agora certos comentários são realmente difíceis de entender:
“Nesses pancadões acontecem vários crimes…”
Então os vários crimes devem ser inibidos e combatidos e não o pancadão em si, já que pancadão não é crime.
“O que um menino de 14 anos estava fazendo lá a essa hora?”
Primeiro,  dormir tarde não parece motivo justo para a pena de morte. Também o que ele faz não é da conta de ninguém além dele e de seus pais.
Por fim, não me lembro de alguma lei que estabeleça toque de recolher para adolescentes.
E não dá para se comparar todos os adolescentes pelo perfil do seu filho que está em casa com a barriguinha cheia de chocolate.
Novamente, é preciso lembrar das diferenças.
Agora uma frase que mais me impressiona: “Nesses bailes ocorrem putaria e prostituição”
Sério? Você jura mesmo que as pessoas gostam de sexo na cidade com o maior número de puteiros por metro quadrado na América Latina? (Essa frase é uma expressão fática, nunca parei para contar).
Queridos senhores e senhoras puritanas, preciso contar a vocês que prostituição além de não ser crime (O crime é explorar a prostituição), envolve pagamento.
Acredito que nesses bailes as pessoas se esfregam por pura troca de fluídos e não de dinheiro.
E ao que tudo indica, nem todo mundo acha que sexo é pecado.
Então estamos diante de uma patrulha moral.
Quando pensamos em todos os argumentos para uma “Guerra ao Funk” vemos que realmente é uma questão de imposição de princípios.
O problema é que princípios não se impõem, se pregam.
Daí pergunto: Quanto do seu tempo você doa para ensinar música de qualidade (segundo seu gosto) em alguma comunidade que gosta de funk? Você é voluntário em algum projeto? Ou acha que a doação de brinquedo no final de ano é suficiente? Na “Ordem” que você frequenta as reuniões com afinco, estimula a doar tempo ou a coisa se resolve em coquetéis para arrecadar fundos?
Você prega sua salvação pela presença ou está assumindo o papel de carrasco de Deus, empunhando o tridente diabolico e gritando venha pela dor?
Talvez, se convivêssemos mais com nossos desafetos, aprenderíamos preciosas lições de tolerância.

Dr Helton Fesan, Advogado, escritor e MC pra sempre. 

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