sexta-feira, 26 de agosto de 2011

NO FIM DO DIA


No fim do dia, quando cair a tarde procure um bar humilde, freqüentado por pessoas humildes. De preferência ao balcão onde cada mundo disputa seu espaço ombro a ombro.
Peça cerveja
Não importa seu ranço calvinista que exige moderação com o álcool no meio da semana, nem seu narcisismo obcecado em livrar-se da barriga, não importa.
Guarde o whisky para encontros musicais com a turma da esquina e o vinho para o romance inventado com cara de reconciliação.
Nesta boca de noite, sente-se na roda dos comuns e aja com decência, peça cerveja.
Hei a bebida dos humildes desde que se colhe o trigo e que se separa do trigo o pobre e desprezado joio.
Com a caneca de cerveja na mão e o cotovelo no balcão para sustentar o tal do mundo que pesa nos ombros, observe ao redor os que te acompanham anonimamente neste brinde calado e solitário.
Veja que há em cada um a vontade reflexiva de se encontrar em si mesmo, mesmo que para isto se deva falar com o outro.
Ninguém ali ganhou um Nobel, ou inventou qualquer remédio, mesmo que seja para curar cansaço que este todos sabemos que o remédio quem nos deu foi o criador.
São poetas de obras e calos, oradores de verdades de si, cancioneiros de pé de rádio. São gente como eu sou, como tu o é.
Não importa o terno ou a gravata ou a armadura com motor que te levará a tua casa no final do dia. Nada disto pode esconder ou disfarçar a pele e osso de que todas as pulgas como nós são feitas.
A verdade é que no balcão todos esperam para ser servidos e todos sabem que pagarão pelo trago do final do dia. Somos companheiros de Jó e com ele estávamos quando fundaram e inventaram o mundo.
Por isso, senta-te no balcão e pede tua cerveja como todos os simples para lembrar-te de quem é e do que não é.
Brinda calado com teus iguais.

Helton Fesan

Nenhum comentário:

Postar um comentário