Se você não está familiarizado com a Revolução Farroupilha, se sabe pouco sobre o Rio Grande do Sul, se nunca ouviu falar em lanceiros negros e acha que porongo é algum sinonimo de furúnculo, calma, vamos dar uma breve introdução.
Em bom e ágil wikipédia se vê que a “Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha foi a revolução ou guerra regional, de caráter republicano, contra o governo imperial do Brasil.
Lanceiros Negros são dois corpos de lanceiros (homens em cima de cavalos carregando lanças que iam à frente da batalha) constituídos, basicamente, de negros livres ou de libertos pela República Rio-Grandense que lutaram na Revolução Farroupilha.
Na madrugada de 14 de novembro de 1844, um esquadrão de lanceiros negros foi mandado para acampar no Cerro dos Porongos desarmados e foi “surpreendido” e arrasado pelas tropas imperais.
Agora que você já sabe ou relembrou do que eu estou falando, vamos ao tema deste doído artigo.
Por que eram os negros enviados à frente da batalha? Porque eram tidos como perdas menores, perdas suportáveis ou previstas.
Em todas as guerras da humanidade esse conceito é básico: peão vai na frente e você sabe que ele está lá para ser estrategicamente abatido.
A covardia maior é quando não se conta a estratégia suicida para o bravo combatente, e este é jogado como isca ao inimigo.
Ninguém duvida que hoje, no Brasil desejoso por regimes militares, estamos em plena guerra urbana.
Nossa PM age, pensa e se movimenta como quem está em guerra.
Eu, atuante no judiciário como força democrática e garantidor da Constituição, advogado, acabo vendo e presenciando esta guerra mais de perto em Ações Penais que revelam uma lógica cruel: O CORPO NEGRO VAI NA FRENTE DO COMBATE.
Todos nos comovemos com a morte do Jovem Policial Negro, Leandro Martins Patrocínio, em heliópolis, mas perguntamos, o que fazia ele lá? E porque os policiais em conflito e à paisana em comunidades são sempre negros?
O famoso policial “à paisana”, o infiltrado, não pode ser branco, caucasiano, de cabelo jogado de lado… Ele precisa se parecer com o cara da comunidade, ter os traços da mestiçagem, ter a carta de marginal…(?).
E lá vamos nós com o sonho de ser herói, à frente da batalha para comprar a liberdade com sangue.
Observo triste a história se repetir e me pergunto se um dia o peão vai entender que esteja do lado que for do tabuleiro, ele é sempre preto e está lá para ser abatido.
Dr Helton Fesan