terça-feira, 15 de junho de 2021

OS NOVOS LANCEIROS NEGROS, A VELHA TRAIÇÃO DOS PORONGOS

 


Se você não está familiarizado com a Revolução Farroupilha, se sabe pouco sobre o Rio Grande do Sul, se nunca ouviu falar em lanceiros negros e acha que porongo é algum sinonimo de furúnculo, calma, vamos dar uma breve introdução.

Em bom e ágil wikipédia se vê que a “Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha foi a revolução ou guerra regional, de caráter republicano, contra o governo imperial do Brasil.

Lanceiros Negros são dois corpos de lanceiros (homens em cima de cavalos carregando lanças que iam à frente da batalha) constituídos, basicamente, de negros livres ou de libertos pela República Rio-Grandense que lutaram na Revolução Farroupilha.

Na madrugada de 14 de novembro de 1844, um esquadrão de lanceiros negros foi mandado para acampar no Cerro dos Porongos desarmados e foi “surpreendido” e arrasado pelas tropas imperais.

Agora que você já sabe ou relembrou do que eu estou falando, vamos ao tema deste doído artigo.

Por que eram os negros enviados à frente da batalha? Porque eram tidos como perdas menores, perdas suportáveis ou previstas.

Em todas as guerras da humanidade esse conceito é básico: peão vai na frente e você sabe que ele está lá para ser estrategicamente abatido.

A covardia maior é quando não se conta a estratégia suicida para o bravo combatente, e este é jogado como isca ao inimigo.

Ninguém duvida que hoje, no Brasil desejoso por regimes militares, estamos em plena guerra urbana.

Nossa PM age, pensa e se movimenta como quem está em guerra.

Eu, atuante no judiciário como força democrática e garantidor da Constituição, advogado, acabo vendo e presenciando esta guerra mais de perto em Ações Penais que revelam uma lógica cruel: O CORPO NEGRO VAI NA FRENTE DO COMBATE.

Todos nos comovemos com a morte do Jovem Policial Negro, Leandro Martins Patrocínio, em heliópolis, mas perguntamos, o que fazia ele lá? E porque os policiais em conflito e à paisana em comunidades são sempre negros?

O famoso policial “à paisana”, o infiltrado, não pode ser branco, caucasiano, de cabelo jogado de lado… Ele precisa se parecer com o cara da comunidade, ter os traços da mestiçagem, ter a carta de marginal…(?).

E lá vamos nós com o sonho de ser herói, à frente da batalha para comprar a liberdade com sangue.

Observo triste a história se repetir e me pergunto se um dia o peão vai entender que esteja do lado que for do tabuleiro, ele é sempre preto e está lá para ser abatido.


Dr Helton Fesan

domingo, 6 de junho de 2021

É muito lucrativo ser ISENTO.



Acho histericamente engraçado.

Tenho vontade de rir nervosamente com rosto de agonia quando vejo uma pessoa discursando com semblante equilibrado e sereno, dando opiniões equilibradas e serenas sobre cadáveres em putrefação e moribundos torturados em larvas.

O elogio do equilíbrio diante do caos, do absurdo e da urgência me soa como aplaudir o catatônico sentado no meio das chamas.


Mas tem algo à mais nesse meu riso desesperado.


A percepção do mal motivado pela ganância.

A corrupção das idéias, a compra da consciência e fechar dos olhos diante da dor alheia.


Lembro-me de Pilatos e de seu sorriso arrogante. Dá satisfação contida e do seu discurso equilibrado diante da condenação de um inocente.


Consigo ouvir sua voz dizendo que "não quero politizar minha opinião", "não gostaria que esse episódio fosse usado politicamente..."


E lavou as mãos sorrindo, pois, dali poderia sentar-se à mesa de sua camorra e dizer que o incoveniente foi convenientemente resolvido.


E se gabar que engenhosa(mente) só precisou lavar as mãos.


Diante dos quase meio milhão de mortos pela negligência de um desgoverno que pretende diminuir a população com a ferramenta morte (seja por bala, por vírus ou por abandono);


Diante de um sistema econômico desorientado e que só gera riqueza para quem já acumulou riqueza de forma absurda;


Diante do roubo e da destruição de nossas reservas naturais e do genocídio dos povos originários da terra;


Diante do holocausto do povo preto patrocinado pelo Estado nas periferias;


Os Pilatos continuam lavando as mãos.


Artistas, celebridades, subcelebridades, micro empresários ávidos em pertencer a uma elite endinheirada, profissionais liberais ansiosos por contratos relevantes, e um exército de fracassados desejosos por um espaço político que nunca alcançariam por mérito.


Todos com suas mãos rigorosamente lavadas e isentas.


Mas a história não perdoa e Pilatos está nela como o que realmente foi: um corrupto a serviço de um Estado que para manter o poder permitiu a tortura e a morte de um inocente.


A diferença para os dias de hoje é que não falamos de um, são quase meio milhão em números oficiais, e bem mais que isso em números totais.


A consciência desses "equilibrados" jamais estará limpa.


Sigo controverso, isento jamais.


#forabolsonarogenicida 


Dr Helton Fesan