segunda-feira, 28 de outubro de 2019

QUANDO SE ROUBA NO JOGO


Faz tempo que não escrevo livremente. Meus artigos são artigos de veículo algum e de todos os veículos que queiram compartilhá-lo, isso significa afirmar  que não são remunerados.
E a vida cada vez mais  precisa ser remunerada.
Tudo custa caro, da gasolina ao livro do sebo. Do cafezinho à água potável. Do bate papo na praça à consulta com o cardiologista.
Nosso tempo precisa ser pago.
Enquanto o nós se aglomera no aperto da condução chamada orçamento, ao longe, enxergamos uma pequena e seleta ilha espaçosa, arejada, ensolarada de um lado e com jogos de neve do outro.
Podia ser o Chile mas não, é a pequena ilha dos privilégios que flutua feliz na América Latina.
Os números são sempre parecidos, 2% mais ricos acumulam 95% das riquezas e o restante se expreme.
Um pequeno grupo se conforta com a riqueza de seus próprios valores e se convencem que há algo de divino no sofrimento de quem não come e no escasso momento abençoado dos que conseguem rezar, comer, morar e dirigir com a graça do financiamento bancário.
“Do que se queixara o homem senão do seu próprio pecado?”
Mas longe da ilha maravilhosa, espremido entre o orçamento e a oração de um deus não cultuado, há o indivíduo que a tudo observa e aos poucos percebe que nesse jogo ele está sendo abertamente roubado.
Há algo de muito podre na maneira com que esses dados saltitam no tabuleiro e sempre acabam em sete.
Dia após dia, jogo após jogo esse indivíduo observa. Seu olhar atrai outro olhar e outro e outro…
basta uma brecha, u m pequeno e insignificante abuso… O caixa que vende a 1,99 e não tem um centavo de troco. A tarifa bancária embutida no serviço, o custo de entrega que não foi avisado, o imposto cheio de letrinhas que vem nos serviços essenciais, os 17 centavos na tarifa de ônibus e     BUM!
Explode o pacato cidadão. Tira a mão do bolso, tira a lama da minha vida, tira, tira, tira.
Você tá me roubando. Nem sei direito o como, nem entendo ao certo os números, nem compreendo esse jogo que você criou, mas pelo céu que paira acima da minha cabeça e da sua, eu sei que você está me roubando.
E não é só dinheiro.

Helton Fesan - Escritor, Advogado e Consultor.
heltonfesan@hotmail.com

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

"Sixteen Tons" não é 16 Toneladas


"Sixteen Tons" é uma canção sobre a vida de um mineiro de carvão, cuja primeira gravação foi em 1946, pelo cantor de country americano Merle Travis e lançada em seu álbum Folk Songs of the Hills no ano seguinte. Em 1955, Tennessee Ernie Ford fez uma versão que atingiu o topo da parada na Billboard, com mais outra versão de Frankie Laine lançada apenas no Reino Unido.
Abaixo darei minha humilde tradução para a música adaptando certas frases para não perder a poesia sugerida.

Some people say a man is made outta mud 
(Alguns dizem que o homem é feito de barro)
A poor man's made outta muscle and blood
(O pobre é feito de sangue e braço)
Muscle and blood and skin and bones
(Sangue e Músculos, pele e osso)
A mind that's a-weak and a back that's strong
(Uma cabeça fraca e um lombo bem grosso)

Refrão
You load sixteen tons, what do you get?
(Leva 16 toneladas para o que ganhar?
Another day older and deeper in debt
(Um dia mais velho e dívidas pra pagar)
Saint peter don't you call me 'cause I can't go
(São Pedro não me chama porque não posso ir não)
I owe my soul to the company store
(Eu devo minha alma para a Companhia de Carvão)
*carvão é coal mas não faria sentido :0


I was born one mornin' when the sun didn't shine
(Eu nasci em uma manhã quando o sol não brilhava)
I picked up my shovel and I walked to the mine
(Eu peguei minha pá e caminhei para a mina)
I loaded sixteen tons of number nine coal
(Dezesseis Toneladas de carvão, carreguei)
And the straw boss said "well, a-bless my soul"
(O encarregado disse: “MINHA alma abençoei”)

Refrão

I was born one mornin', it was drizzlin' rain
(Eu nasci em uma manhã que a chuva leva ponte)
Fightin' and trouble are my middle name
(Brigas e problemas são o meu sobrenome)
I was raised in the canebrake by an ol' mama lion
(cresci em um canavial com uma mãe leoa)
Cain't no-a high-toned woman make me walk the line
(Gritaria de mulher não me botam de boa) 

Refrão

If you see me comin', better step aside
(Se me ver chegando melhor sair de lado)
A lotta men didn't, a lotta men died
(Muitos não fizeram e muitos tombaram)
One fist of iron, the other of steel
(Um punho de ferro e outro de aço)
If the right one don't a-get you, then the left one will
(se a direita não derruba a esquerda eu faço)

Refrão

Bem, no Brasil no final da década de 1960, Noriel Vilela interpretou uma versão em português da música, denominada "16 Toneladas", em seu primeiro álbum-solo, Eis o Ôme. Entretanto, a versão em português nada tem a ver com o canto de sofrimento dos trabalhadores superexplorados, mas sim com o ritmo do sambalanço, que fazia sucesso na época.

Deixamos a reflexão: Por que quando nos traduzem, fazemos versões festivas e sem crítica social?
Por que exaltar apenas o lado festivo, o samba, o futebol e a curtição (que são muito bons) mas e nossas agruras? E nossa revolta?
Vamos calar com pão e circo?

Fonte de pesquisa: Weekpédia e Youtube.