sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A ALMA DO NEGÓCIO.


Desde pequeno Joãozinho foi incentivado pelos pais a ter um ofício.
Ferramentas de plástico, calculadoras luminosas, caixinhas registradoras e ate kit salão de beleza, faziam parte da enorme caixa de brinquedos.
Seus pais, antenados, respondiam a qualquer estímulo do mercado e se apressavam em inventar atividades que levassem o menino a um posto profissional seguro.
Era compreensível.Nos altos e baixos do cotidiano, os pais de Joãozinho sabiam que dentre as desgraças do destino, ficar desempregado era das mais temidas.
Pior até que a morte, com a qual são conformados os viventes, mas a fome...
Os pais de Joãozinho são da geração do choque da automação, que temem o domínio das máquinas e presenciaram filas de produção serem extintas.
Daí o conselho - Joãozinho, você precisa fazer algo que uma máquina não consiga.
Com esse conselho Joãozinho cresceu e resolveu ser artista, músico, pois a sensibilidade humana é algo que vem da alma e alma, uma maquina não teria jamais.
Já adulto assistiu incrédulo à Inteligência Artificial e chegou a pegar birra da história de pinóquio quando percebeu a metáfora da busca da máquina por uma alma.
Mais adequado lhe parecia a Noite dos Mortos Vivos, onde Zumbis seriam maquinas sem alma, devorando a Humanidade.
Um dia Joãozinho foi (malditamente) presenteado com um software que compunha canções.
Duvidou.
Com o sax em frente da tela, soprou as primeiras notas e viu surgir uma lista de opções com escalas musicais.
Bastava clicar e ouvia das caixas infernais surgirem melodias possíveis a partir de suas notas iniciais.
Seu Coração quase parou, quando ouviu a um Clik, surgir a melodia que antes imaginara.
Seus olhos encharcaram-se e iniciou um choro soluçante.
Era o começo do fim...
Chorou e chorou como nunca antes havia chorado um ser humano.
Um choro profundo, compungido, uma dor de luto.
Foram três dias até curar-se.
Apontando para a tela sentenciou:

“Nem choro, nem riso. Minha dor, minha alegria, sempre lhe será alheia”.